domingo, 17 de outubro de 2010

Os Pedruscos

Era uma vez,uma cachorra travessa,cinzenta de olhos verdes, que latia forte e ao mesmo tempo era meiga, muito meiga.
Nas férias,Lalá vinha para a praia à procura de aventuras,sol, mar e muita brincadeira.Ela abria todos os dias o portão de madeira e lá ia passear com Bela, sua companheira .
O vento arreliava com Bela,que corria cheirando areia,brincando com o côco como se fôsse bola,a tábua como se fôsse regua.
Lalá cuidava com carinho da cachorra,mas em uma manhã ensolarada,quente e muito clara,ela escapou de suas mãos e da corrente que a prendia,indo em direção às pedras.
Os pedruscos ali moravam, aglomerados e Belinha os via e ouvia como se fossem gente.
Gostavam muito de cantar.Eram amigos das conchinhas dançarinas,das pedras miudinhas e do sea glass colorido,que estavam sempre escondidos.Cantavam tão forte que Belinha corria e ficava parada com seus olhos verdes olhando interessada.Como será que se faz para cantar assim?E tentava,tentava...Só saia latido!Os Pedruscos eram muitos e formavam um lindo coral.Tinha Pedrusco baixo e gordinho,magro e desajeitado,liso e empertigado.Tinha Pedrusco deitado,sentado,em´pé.De cabeça para baixo!
Todos cantavam:
-Vento que vai!
Vento que vem!
Leva a maré à beijar meu bem!
Hah!Então existiam Pedruscas!As namoradas destes barbudos que tinham a cabelereira enrolada como anel.Cabeleira verde é claro!
Lalá gritou:Bela Volta!
No alto de uma pedra um bichano estranho grunhia:Nhiiiiimmm!!
Era muito feio e bravo.Parecia de outro planeta.Com seus olhos redondos queria avançar, mas Lalá que era muto corajosa,sentindo um arrepio,espantou o animal que ninguem saberia dizer se era ou não do mal.
Os pedruscos ficaram quietos de repente,pois sentiram o perigo à rondar quando escutaram aquele rosnar.Era peludo,côr de mel,orelhas pequenas, espetadas para cima.
Essa montanha de areia chamava Falésia e Lalá adorava passear ali,vendo as tiras coloridas de bege, de marron, de creme ou alaranjada.Levava nos saquinhos para fazer velas com elas.No copo transparente ia devagar com as mãos em concha deixando cair de mansinho as cores separadamente..Colocava parafina por cima.Lalá era artista, meio magica para inventar.
Os Pedruscos gritaram para o bichano:Sai!Estamos cantando nossa melodia para comemorar o aniversário da conchinha listadinha!
Mas a conchinha piscava os olhos envergonhada com o Parabens!O bolo feito de areia molhada, pingada, estava lindo! As amigas dançavam em ciranda.O sabiá chegou para a festa e a gaivota com sua tropa.Cada um levou um pedaço de bolo.
Lalá não entendia porque tanta conchinha,tanta gaivota revoando em volta.
Só Belinha via a festa.Shell, a conchinha listadinha estava vaidosa,Lalá tinha a escolhido para seu castiçal.
Bela viu e ouviu os Pedruscos e Pedruscas se despedindo de Shell,o sabiá cantando e as conchinhas dançando.
Na volta para casa Lalá preparou com cuidado seu copo listado,a parafina por cima e a conchinha Shell como rainha no meio, linda!
E assim de uma conchinha de praia lá pertinho do mar, ela se tornou o enfeite predileto das férias de Lalá.
Quando voltou para casa ,na cidade onde morava, longe, muito longe,colocou no papel transparente e deu de presente.
Presente de Natal!
Mamãe, aqui está o que fiz para você!
A mãe sorriu e abraçou Lálá e Shell deu uma piscadinha ...

Pedrusco

Praia de Búzios (RN)

Tapiocaria

sábado, 16 de outubro de 2010

Vai uma tapioca?

Indiscritivel os prazeres da boa mesa na cidade de Natal!
Vai uma tapioca,senhoora?É uma frase que amei muito tempo atraz no Breezes de Salvador.Desde então me tornei uma apreciadora deste delicioso quitute.
Mas comer tapioca depois de ver as mulheres da terra, assando nos seus fornos de pedra rustica,essa é uma história para hoje.Será no amanhã?
O dia começa com este prazer,olhando o verde mar que contrasta com o céu pintado de azul profundo.As areias formam dunas e o vento vai empilhando devagar.Se dividem em côres e matizes do bege ao marron formando desenhos horizontais nas rochas que finalizam a praia,onde as pedras se vestiram de algas verdes numa festa multicolorida.Os coqueiros exibem seus frutos em cachos.
Essa praia me surpreende sempre pela inovação.Cada época que a visito seu perfil foi transformado com uma menina que se enfeita e mostra a adolescente quase mulher.
Escrevi uma ocasião a historia infantil dos pedruscos.Me divertia ver as pedras de formatos diversos com longas barbas verdes .Eu as chamei de Pedruscos.
Nesta atmosfera de paz e completamente protegida dos ruidos da cidade ou das pessoas se contempla a paisagem virgem, nua,sem artificio algum.Exatamente com Deus criou.
O único som vem das ondas com sua melodia cadenciada,ritmada,exata.
Nesta exatidão nos enebriamos do ar, do perfume que vem com a maré e equilibramos todo nosso pequenino ser.Quem não é pequenino no meio desta grandeza?
A grandeza que nos faz recuar pela força da correnteza,sabendo nossa fragilidade.
E nesta imensa curva de areia,controlada pela maré a tarde se poe num poema de espumas onde os pássaros mais ousados se aventuram à caçar moluscos .
O balanço da rede,a noite que chega,o coração que aquieta.
Na lembrança a moça brejeira pergunta:
Vai tapioca senhooora?
Isso me faz pensar que nossa memória tem uma gravação tão real que um dia vivenciamos novamente e com uma frequencia e força maior nossos desejos mais escondidos.Acredito que sonhei sim, desde aquela primeira vez ouvindo a baiana, falando macio,com todas essas experiencias de agora.Sonhei sem saber, lá no fundo ...
Os coqueiros,a espuma,o verde transparente das aguas que olho sem parar.
Um dia, uma centelha se transformou e me trouxe até Natal!
Uma gratidão enorme me faz feliz neste momento .

domingo, 3 de outubro de 2010

Comer,rezar e Amar

O livro Comer,rezar e Amar me prendeu a atenção .A autora, Elizabeth Gilbert é divertida,leve e sincera.Os tres III que são os escolhidos para sua fuga à procura de si mesma são maravilhosos:Italia,India e Indonesia.
Mas o filme, apesar das criticas negativas nos refresca a alma e nos leva à considerar que não estamos sòzinhos nesta busca que é o Encontro.Seja com o corpo, brigando com dietas e liberando estravagancias, seja com o espirito aprendendo na meditação que Deus está presente,seja no coração liberando a sensualidade e o desejo de ser amada novamente.Corpo, Alma e Espirito .Esta trindade nos forma em uma pessoa inteira e caso uma delas esteja falhando, infeliz ou incompleta não seremos nada mais que uma sombra de nós mesmos.Ser um Ser total depende de treino e atenção.
É lindo porque nos mostra a realidade de quem já viveu esse tipo de experiencia e quer se equilibrar novamente.E para isso temos que perder o mêdo.Esse inimigo das grandes conquistas da vida, dos grandes amores e de inedito.
Vale à pena ver com um olhar de flexibilidade este filme estrelado por Julia Roberts e Javier Barden.Afinal,quem não gosta de um final feliz?E as paisagens são belissimas!Enjoy!

sábado, 2 de outubro de 2010

Que dizer de quem se foi

Segunda desta semana tive o choque ao saber da morte de meu querido primo Monsenhor Expedito.Chorei a perda desta pessoa querida e deixei nas lágrimas o sabor da saudade de todos que se encontravam sempre com ele.
Desde pequena a acolhedora casa de Tia Zizinha era cheia de risos e brincadeiras e da cozinha vinha o perfume de seus quitutes,como o famoso cabrito, que mais tarde aprendi.Na Rua da Consolação vi tia Chiquinha rindo com papai ao mostrar slides da Europa:No Tempo do Imperador tambem viamos!E contava que Tia Veridiana era anarquista. Uma tarde encontrou o Imperador passeando na praça e gritou:Viva a Republica!Tia Zizinha a mãe amorosa dos tres Antonios.
Meus anos de menina se enriqueciam no aconchego desta gente maravilhosa, da familia Barros, de meu avô.O mais velho,hoje foi sepultado e entre as emoções desconexas de meu coração fico à perguntar:Que dizer de quem se foi?
O alegre padre que fez minha Primeira comunhão, meu noivado, meu casamento, batizado de meus filhos não era uma pessoa comum.Um grande apreciador de música classica, professor querido foi secretario de Dom Agnelo Rossi e na Italia se estabeleceu até esta segunda.Diretor do Observatorio Romano em Portugues deixava claro sua competencia intelectual.Mas que dizer daquele que me levava ao estagio no hospital?
Daquele que com a caixa de fosforo improvisava no samba seu talento musical?
Daquele que apreciava a pizza"bianca"(como dizia ele)na Via Candotti!
O mesmo que ria com a criançada nos aniversarios na minha casa.O predileto de meu pai que era agnostico.O querido de minha mãe que era protestante.
O meu eixo quando me converti para a Igreja Catolica.O silencio da sabedoria quando viu que algo estava errado no meu trajeto.
Rotariano.Amigo de pessoas influentes.Mostrava com orgulho seu cartão do Vaticano.
Conego!
Que dizer de quem se foi assim?Será que falei o quanto lhe queria bem o suficiente?
Que é afinal suficiente?
Ao chegar hoje no seu pais,seu corpo não foi liberado o suficiente para a missa!!
A policia federal prendeu esse grande homem que não podia mais se defender e no silencio ficamos nós.Todos.Amigos,parentes,ex alunos na homenagem solitaria de um reflexo de um pais que amanhã estará votando.No final da missa a melodia em latim desses homens que aprenderam com ele o que é ser um devoto .O respeito no ar.
Nesta semana onde tambem fiz mais um ano de vida,lembrei da frase que ele usava:
O importante é dar vida aos anos e não anos à vida!Celebre a vida!
Assim, na tarde fria,esperamos das 10 da manhã às 15 da tarde um brasileiro voltar para sua casa.De muitas,a ultima.E amanhã votar para mim, ficou muito pequeno.
Talvez por ver o desrespeito das autoridades legais com as autoridades eclesiasticas .E na ingenuidade,o outro primo Monsenhor:não se preocupe minha filhinha ele faz parte do Cabido!Que é Cabido Monsenhor?A cúpula da igreja.
Meu Deus!Amanhã é dia de votar!