segunda-feira, 7 de maio de 2012

Foi ontem ou uma eternidade se passou?

Parece muitas vezes que foi ontem e outras uma eternidade que não ouço sua voz, não vejo seu riso ironico `brincar comigo.Mas o tempo me diz que fazem 14 anos que você se foi.Não sei se consegui durante uma vida ser a filha que esperava, mas sei com certeza que superei à mim mesma nos longos 3 anos de doença.Veio com o diagnostico uma força sobrenatural que foi me alimentando durante a luta contra aquele cancer que nunca deveria ter chegado.
Vejo muitas amigas nesta luta com suas mães hoje e elas se tornam rápidas como eu era nesta época.Tinha muita urgencia.Creio que ainda tenho,mas um pouco devagar.Urgencia presume-se que depressa,mas no momento reflito e paro bastante antes da cada passo.
Vamos aprendendo muito e os momentos ficaram registrados nas minhas atitudes,refletindo em mim o que é importante AGORA.
Ontem por coincidencia li na Bazaar americana um artigo lindo.Meghan O'Rourke,poeta, critica e autora de The Long Goodbye,descreve os sentimentos que nos restam e que ficam fortes depois da perda de nossas mães.O artigo"Nos sapatos de minha mãe" me emocionou pela clareza e semelhança com que descreve essa "orfã" que se apodera de nós independente da idade .Uma sensação de abandono mesmo.
Ela conta que em grandes ocasiões que se defronta na vida coloca os brincos da mãe.
Uma écharpe,um detalhe.Concordo.Usei anos o anel da minha.Primeiro um que era de turqueza lindo,por sinal não muito querido dela.Uma viagem à BH me roubaram sei lá como.Não liguei.Mamãe dizia que ele não dava sorte.Melhor assim.Outra época me livrei de um maravilhoso de agua marinha.Tinha muita história e na verdade veio completar a minha.Um dia resgatei.Mas o predileto era o de jade com rubis e este meu pai desenhou, como os outros,mas tinha um simbolo pela pedra que significa simplicidade.Usei anos.Guardei.Só quando algo é para repartir com ela como a festa do meu livro"Nós Mulheres!"Estamos juntas nessa!Afinal sou um pouco parecida com você!Está feliz?
Acredito que nos vestimos destes pedacinhos de lembranças para sentirmos o aconchego dos braços que nos abraçaram,do colo que nos protegeu,do ventre que nos gestou .Um pouco delas está ali.Muitas outras heranças são mais importantes como o gosto para a leitura,para escrever,como faço agora.A vaidade, o batom,a vontade de viajar.Outras aspectos da personalidade que mesclamos com o de pai,avó e tias.Mas está lá!Mais forte que o anel no dedo,o gesto de cada momento.
No simples bolo ao prato preferido.Na implicancia talvez.Porque não?
Ouviremos sempre a voz que nos chama para o sonho ou para a realidade.A de mamãe era o sonho a de meu pai a realidade.Como dizia ela sentiremos sempre a vontade de dançar mesmo que o corpo não obedeça.Dançar com a vida, com a alegria de Ser.Render homenagem à coragem!
E quando o frio apertar colocarei seu casaco de pele por dentro que antes chamava de exagerado e sairei com ele muito agasalhada,pois estará pertinho e com brincos enormes como você, estarei segura para enfrentar o vento  que passa ligeiro levando o ontem e trazendo o amanhã!

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