sábado, 16 de março de 2013

Quase 50 anos Depois

Sou uma contadora de histórias,não pretendo ser poetisa ou escritora.Conto apenas, como em conversa na mesa de um café falamos de momentos que trazem boas imagens e aquecem o coração.
Sou uma mulher menina, uma menina mulher.De quando em quando me deparo com uma elas e rio sòzinha de fatos e relatos.
Pois bem há quase 50 anos atras,1964,namorava um vizinho de predio e meu pai achava muito cedo para um compromisso tão serio. Porque sempre fui muito decidida e o medo era que de repente resolvesse casar.
Apesar de estar na adolescencia e isso como dizem ,aborrecentes dão trabalho, ele não se conteve e comprou uma viagem longa para Europa.Obviamente queria desviar minha atenção .Saimos pois no dia 10 de Março de 1964 no Cabo San Roque para Lisboa.Naquele tempo viajar de navio era muito chique, as malas numerosas, uma verdadeira aventura Os preparativos..Vison, jóias,um exagero!
Os amigos e parentes iam levar, um Bota Fora gigante,lotando o bar e fazendo das gargalhadas e piadas um acontecimento.Hoje não se pode entrar nos navios e dou razão à eles.Era um transtorno aquela festa!
O apito do navio que até hoje me emociona selava a minha separação do cotidiano, da Escola São Domingos, dos encontros com o namorado e as turminhas.
Enfim,ao mesmo tempo que a costa se afastava,tambem as amarras,a rotina.Agora a fantasia começava.
Noites de gala,roupas lindas,musica,muita alegria e um mundo se colocava à minha frente.
Foi facil fazer amizades.Os argentinos ,Muy Amables se encantaram comigo e até hoje preservo Ines como uma joia daquele tempo.Lembro de sua mãe linda,De Guilhermina,de outras que já não vejo mais.
Nossa mesa era o palco de conversas animadas,regadas à bom vinho e assim conhecemos Angelita Navarro de Andrade viuva de Edmundo Navarro de Andrade celebre agronomo brasileiro responsavel pela introdução do eucalipto no Brasil e um dos nomes mais conceituados da Companhia de Estradas De Ferro.
Acho que a história deles dá um livro, mas como não temos espaço, conto apenas que este ilustre brasileiro,estudante em Coimbra foi à Espanha e se apaixonou perdidamente por aqueles olhos azuis que pareciam duas pedras preciosas.Muito autoritaria,ela dava ordens e pela primeira vez vi meu pai obedecer:Verinha va desfilar para la Boutique!!E assim foi!
Ela era de uma elegancia incrivel, com longas unhas vermelhas,cabelos grisalhos e maquiada todo tempo.
De Sevilha, visitava seus parentes todos os anos assim.
Disse-me que seria minha madrinha de casamento e eu achei graça,pois tinha 85 na época.E foi mesmo!!
Sua casa em Rio Claro é um lindo museu onde registra a jornada heroica deste casal incrivel.
D.Julia, fazendeira de Taquaritinga sentava conosco muitas vezes e com dinheiro de goiabada fazia sua viagem sossegada.
No meio de tantas surpresas e acontecimentos fui eleita Rainha do Equador para desespero de meu pai.
Precisaram dar à ele um cargo para batizar com clara de ovos os novos que passavam pela linha do Equador, para acalma-lo.
Papai era muito bravo ,mas a maioria venceu.Noites de lua cheia,ar de maresia, som de orquestra,poesia.
Lopes e a esposa se mudavam para Lisboa com Ricardinho pequeno e ela,Georgenete,gravida,andando no convés.
Desta turma animada,poucos restaram.E foi a mesma na volta no dia 29 de Junho.
Enfim, quase 50 anos depois vejo a chamada do Splendour of  The Seas para a travessia do Atlantico! E uma emoção forte bate e traz um lindo filme rodado naqueles tempos que não voltam mais!

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