domingo, 21 de setembro de 2014

Um Caderno de Receitas

Lembro-me como se fosse hoje,quando mamãe se foi e uma amiga terapeuta me pediu um caderno de receitas com as minhas prediletas.
Naquele momento ,não atinei com o sentido profundo desta pergunta:Você me faz na chacara um caderno de receitas??
Barbara era uma pessoa especial.Polonesa,com seu jeito doce de falar e dadivosa.
Todas as semanas visitava o HC para levar bolo aos doentes.Bolo do Papa.Uma receita da preferência de João Paulo II
Fazer aquele caderno para ela foi um aprendizado.Quando terminei minha dor da perda de minha mãe  estava serena.Dor pode ser serena.Aceitação.
Desde então tenho pensado muito no que as receitas passadas de geração à geração significam.
Fico grata por ter tantas,inclusive um de Barbara!
Foi assim que arrumando gavetas encontrei o livro de minha bisavó.
Ana Augusta de Barros,que todos chamavam Ana Augustinha,pois aquele
lado da família é de mulheres miúdas .
Apesar da poeira que soltam essas velhas e amareladas folhas,me deram  a certeza de quem sou.Uma genética de mulheres que se alegravam ao fazer quitutes para seus amados
Casa com cheiro de bolo,cheiro de molho de tomate para uma boa massa,casa que tem vida.
Minha bisa era do tempo onde se fazia Marron Glacê em casa.Não era fácil !! A receita com os saquinhos de filó para as castanhas não abrirem,um processo lento e sábio.Em etapas.Treinando a paciencia.
A cozinha traz essa sabedoria e apesar de parecer matemática,tem que ser exercida com amor.
Este carinho fica nas letras dos velhos cadernos,substituídos hoje por internet nos vários sites sobre receitas.Podemos adquirir qualquer uma clicando no Google .
Mas as velhas páginas me levaram à imaginar minha neta ou netas,sentadas com uma caneta ou na frente de um computador copiando minhas receitas para sua família.

Uma cunhada certa vez me falou que guarda minhas receitas e que minha letra era muito firme.
Será que ainda tenho, depois de usar tanto computador, IPAD  ?Mas era um traço meu.Um caderno de receitas carrega além da letra que revela a personalidade de quem escreveu,sua história,a origem de suas preferências .Rosa minha amiga,faz pesquisas interessantes e com muitas fotos e história de uma um povo,com costumes e referências Os livros dela são maravilhosos arquivos .Na internet não há esse elo,esse laço.Já este caderno que estou copiando,cujas paginas precisam quase de um intérprete me fascina.Açucar com SS. ,xícara com CH.Medidas como prato fundo,libras, e fermento inglês no lugar de Royal.Uma viagem no tempo!!Vovó Cuquinha,como eu a chamava,fazia gentilezas com suas delícias e as Amarais, como brinco do ramo Amaral,adoravam um determinado bolo branco com um gosto especial.E Elas São Assim tambem.O pudim para agradecer a vasilha de jabuticabas.
Foi pela curiosidade do bolo branco que cheguei à encontrar muitas raridades,como Manuê.
Escolho então a de balas de amêndoa para o nascimento de minha próxima netinha.




As folhas de papel cortadas e com os dedos de avó,vou formando violetas em papel de seda.
Me parece que a volta às coisas simples nos levam ao pertencimento como diz Padre Fábio de Melo.
Proliferam os cursos de bordados,bonecas,artesanato,onde as mãos transmitem o calor das emoções .
O carinho,o afeto .Sem essa energia boa talvez as receitas ficassem vazias de sentido, sem nexo.
Meus filhos cresceram neste ambiente de abraço,de avó e bisas fazendo com suas mãos um presente gostoso.Cozinhar pode ser um hobby mas antes de mais nada um reflexo de Nosso amor à direcionadodo .Doamos.
Voltando ao antigo Manuê,Escrito com uma letra linda inclinada,firme como ela.Vai calda em ponto de pasta,um prato de cará,fermento,10ovos e farinha de arroz (ponto de deitar em forminhas).
Muito engraçado.Era assado no dia seguinte.
Uma velha história que me levou à pensar nesta manhã de Domingo .

O reflexo da boa mesa e da candura de Minha bisavó neste caderno de receitas.
 Minhas balas de amendoa!!Significando prosperidade as amendoas felicitarão uma tetraneta de Ana Augustinha !!


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