Quando os Ipês Florescem

Muito tempo atraz, quando encontrei aquele pedaço de terra que hoje é minha chácara, me apaixonei pelos ipês amarelos que já estavam lá.
Cada final de férias dos meninos, eles me alegravam com seus tufos de flores amarelas,algumas imortalizadas nas minhas sedas e nas minhas porcelanas.
Sempre fizeram parte da paisagem de julho, onde a grama fica seca,as flôres se misturam entre "Patas de vaca',Azaleas,Poinseceas vermelhas.O céu sempre muito azul,o frio das manhãs,meus filhos de botas nas peraltices pelo incrivel mundo onde eram donos absolutos.Na magnifica experiencia de liberdade e explorar novos caminhos.
Minha avós tricotavam no sol da tarde e faziamos "quitandas"para o chá de capim cidreira da noite.
Era tudo muito singelo .Plantava muito e aprendi com minha avó Lulú que dia 24 era dia de podar as roseiras.Já com muita idade,ela colocava um banquinho e com luvas, lá ia ela de tesoura em punho cortar os caules que depois se multiplicavam.
Construi então um "sanatório"para recuperar minhas plantas.Lá meus filhos semeavam, esperavam crescer e faziam a troca de vasos quando as pequenas exigiam mais espaço para viver.Foi um laboratório, onde ensinei que a vida é exatamente como a natureza.
Necessita de amor, alimento, cuidados e muita atenção com as ervas daninhas.
Conforme vão crescendo,oferecemos espaço para seu desenvolvimento.Sol e sombra na medida certa.
Eram lindos vasos que se formavam naquelas mãozinhas e eu os comprava para colocar na sala, na varanda.
Foi então que recebi de presente de uma cunhada querida,sementes de Ipê Rosa(dizem roxo)
E hoje meu jardim se veste no inverno dessas árvores lindas ,crescidas,que já foram um dia apenas vasinhos de criança.
Assim o tempo me revelou que a magia continua e neste fim de semana o Ontem se encontrou com o Agora.
Na grama seca os passos de meu neto na descoberta e dos tios na alegria de passar seus conhecimentos da terra.Eles cresceram como as arvores do jardim e junto com elas fazem fotos,relembram travessuras,histórias engraçadas.
Sentei com a pá na mão e comecei à contar para meu neto:
Sabe, todo este jardim,onde as borboletas são felizes por causa das flôres, os colibris voam de lá para cá?As abelhas produzem mel nos troncos das arvores?
Pois bem, um dia,alguem,com o coração sem amor, passou e colocou fogo no meio do bambuzal.Nele estava a arvore predileta.Do lado da capela,dava suas flores uma vez por ano.Lindas,de tufos amarelos.No meio das chamas podia ver seus galhos queimando.
Quando tudo acabou,seu tronco ficou preto como carvão.
Deixei ela lá,acreditando que um dia iria se recuperar.Ele com os olhos atentos escutava.
Hoje aqui,com você, vejo suas flôres amarelas enfeitando a capela e fazendo um quadro com o azul do céu!Olha que lindo!
Ele me respondeu:ela se salvou!
Neste momento o filme da vida se passou e todos sorriram para aquele menino de 3 anos onde o entendimento é maior do que podemos imaginar.Sorriram os que já se foram e os que aqui estão para testemunhar que se deixarmos acontecer tudo pode florescer!
A esperança acontece,quando os Ipês Florescem!