Esse é o titulo de uma poesia ou prosa, que escrevi há alguns anos, quando estava atravessando o deserto.É mesmo!A doença de minha mãe me pegou de frente,sòzinha,com uma angustia de que caminhar no deserto é muito dolorido.
Tudo começou na pequena e antiga casa da Av.Europa onde o CPO era o destino.
Depois de uma cirurgia e com o diagnostico de 3 meses de vida ,caminhamos juntas 3 anos.
Longos anos.
Era uma casa apertadinha,eu fitava o tapete vermelho da sala de espera com muitas duvidas .Mamãe,animada, foi logo fazendo amizade com a compenheira de quimio:D.Nininha,que linda recebia os cuidados de seu filho Theo e de sua secretaria Socorro.Mas as consultas me deixavam angustiada e sem rumo.Sentada num banquinho muito sem jeito,ficava alí no começo da nossa história.Uma história para se contar devagar.E quem conta um conto aumenta um ponto!
Na verdade era muito triste e minha natureza de transformar foi criando oportunidades de sorrisos das enfermeiras.Comecei levando cesta de jabuticabas da chacara.Os frutos redondos,negros e brilhantes se aglomeravam no meio das folhinhas verdes que propositalmente havia colocado para ficar fresco e bonito.
O medo tinha que ser transformado,mas quando ficava do lado de cá da mesa do Doutor ele aparecia.
Comecei então uma brincadeira,que me custou muitos falatórios das pessoas que observavam e não entendiam.
Apesar de não ser um Charles Chaplin e nem conseguir criar um Carlitos,crei uma Vera que fazia da tristeza uma surpresa atrás da outra.Muito humor e alguma fantasia.
Para minha satisfação mudamos da casa apertada para uma mansão linda,ensolarada, amarela com imenso jardim onde os doentes poderiam ver o verde e sentir a vida.
Mais tarde voltei à pequena casa para fazer um tratamento de estética.Fui de proposito.Lá onde havia passado tantos aborrecimentos,fui me cuidar,fazendo massagem,endermologia, tratamentos faciais.Deitava na maca onde as mãos da massagista iam tirando a tensão e olhava de cima,onde a Certeza estava atrás da mesa.
No mesmo espaço.Era tudo diferente!Alegre!Luminoso!E fui me curando...
Sai dali rejuvenecida!
Mas, voltando ao projeto"transforme o que puder e salve-se quem quiser",fomos para Av.Europa na casa amarela.Mamãe já não tinha sua amiga, que faleceu ,D.Nininha.
Os efeitos da quimio deixavam ela abatida e fazia um jogo de tradução com musicas em ingles para ela ir se distraindo no carro.Nele levava Pão De Queijo para os médicos, bolachas de coração para os doentes.Fazia tudo eu mesma. No Chanucá ou Hanukkak distribuia dreidel e cartões.Comprava cristais na Cá D'Oro e oferecia para decorar prateleiras vazias.Brincava com as datas judaicas, pois desde menina no colégio aprendi seus significados.
Uma ocasião na hidroterapia,minha amiga,D.Sara me ofereceu os famosos bolinhos de peixe(tenho neste blog a receita).Fomos até sua casa, pois mamãe adorava tudo judaico e escrevia para a revista Shalom.Descendo do carro,D.Sara disse:Aqui é a loja do pai do médico de sua mâe.Moises!
Fui conhece-lo e foi uma sintonia maravilhosa.Ele foi super simpatico, me ensinou à falar Feliz Ano Novo e me disse:O melhor homem do mundo é aquele que cuida de sua mãe.
Foi assim que minha confiança cresceu e meus tres anos no deserto foram possiveis.
Muitas vezes discordava de seu ponto de vista.Vamos colocar cateter no figado!
Não!Vou fazer uma festa para ela no Aniversário!No Mofarrej.
E depois da festa lá chegava minha mãe, de roxo,perolas,peruca nova mostrando as fotos e totalmente recuperada.Ria com o fato dos chefs serem lindos!
Ela não vive até o casamento de seu filho!
Vive sim!Tira esse remedio por boca e começa outro,que ela vive!
E andando firme,toda de rosa,com um tailleur que trouxe de Miami ela passava na nave da igreja sorrindo ao lado de meu filho Alexandre.
Jamais decepcionaria Ricardo,o querido,portanto, comeu, dançou e tempos depois descansou.
Portanto ao ver Dr.Artur Katz na TV dando entrevista sobre o estado de saude do Ex Presidente Lula tudo veio á memória.As risadas dela dizendo:Vera Lucia,Dr.Artur adorou meu sapato de Miami.Quando voltar lá, compre um desta marca para ele.
E assim foi.Mimava o Dr.Certeza!O mesmo que disse:O Ex Presidente terá uma ligeira indisposição,igual á um resfriado forte!
E assim anos depois voltei por uma ironia da vida, com meu amigo Thales à casa da Av Europa.No bar, o vidro com outras bolachas,nas preteleiras algumas peças que reconheci.Ficou o perfume talvez de L'Eau de
Issey Miyake
Um pouco de mim ficou alí!
A certeza
A Certeza
Estava atrás da mesa
Entre a minha pessoa
E a Certeza
Havia uma distancia
Que eu não podia enxergar
Que eu não queria aceitar
Mas sabia que ela estava lá
A certeza não me agradecia
Mal me percebia
A certeza ficava calada
Ao me ouvir falar
Tinha um equilibrio
Que me abalava
Deus usava a Certeza
Para me transformar
Era longo o caminho
E o nome
Da Certeza
Não posso revelar
(Mas com tanto tempo de convivencia aprendi muito!Principalmente que a vida é urgente!)(um versinho inocente e brincalhão escrito em 98 que hoje já não escreveria)
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